[Resenha:] O Espadachim de Carvão

Fantasia nacional com Affonso Solano


Durante três dias (e eu não esperava lê-lo tão rápido), encontrei-me imerson no universo fantástico de Kurgala, brilhantemente construído pelo autor carioca Affonso Solano para o seu romance de estreia, O Espadachim de Carvão. Devo acrescentar que é um livro que estive muito ansioso para ler, então criei bastante expectativa — e não me decepcionou em nada.


Capa do livro, ilustração de Ralph Damiani

O livro segue a trajetória do personagem-título, o espadachim Adapak, numa jornada de descobrimento por Kurgala, um mundo abandonado por quatro deuses. Neste cenário fantástico, o leitor é apresentado a uma extensa coleção de raças incomuns: uns seres cegos com algo de reptiliano, outros de três braços que são exímios artistas marciais, e ainda umas que parecem saídas de Star Wars. Não obstante, nosso herói é estranho a todas elas. Por quê? Apesar da extensa diversidade de raças inteligentes, Adapak não se encaixa em nenhuma.

Adapak (lê-se Ádapac) é um jovem de 19 anos que tem o corpo todo preto – preto –, muito conhecimento teórico advindo de livros e zero de vivência de mundo. Tendo literalmente vivido numa caverna a vida toda e sido treinado na mortal técnica de espadas dos Círculos Tibaul, você o encontrará vagando por um cenário estranho (sob a lua de Sinanna), sendo caçado por motivos que não compreende, e, ao longo das páginas, acompanhará sua inocência enquanto aprende sobre o imenso mundo que o cerca, descobrirá seu objetivo e desvendará seu misterioso passado.

“Ikibu!”


Com um passo agradabilíssimo de capítulos que alternam de forma igualmente instigante entre a aventura imprevisível do espadachim e flashbacks esclarecedores (o que quebra o frenesi da narrativa), o volume conduz o leitor através de um mundo de beleza e diversidade raras mescladas a um agridoce sabor de realidade. Explorando temas que vão de paixão adolescente e amor verdadeiro, passando por amizade, família e valores morais, até religião e questões existenciais, este novo mundo de fantasia apresenta uma mitologia interessantíssima, bem estruturada e repleta de detalhes (segundo o autor, fortemente influenciada pela cultura suméria, até nos nomes) e é permeado de profusas descrições de cenários e criaturas, além de batalhas emocionantes; imagens tão vívidas e cenas tão deslumbrantes que me fizeram lamentar a improbabilidade de um dia vê-las adaptadas na telona.

Não importa; com uma ótima narrativa, capítulos brilhantemente dispostos, e uma trama envolvente que vai além da aventura clássica para uma experiência imersiva de suspense crescente, O Espadachim de Carvão é cheio de reviravoltas incríveis, personagens carismáticas e momentos surpreendentes, às vezes confundido o leitor desavisado, mas sempre deixando-o na expectativa da próxima curva.

Para quem gosta do esmero na edição, é um show aparte: cada capítulo começa com uma citação dos livros fictícios de Tamtul e Magano (dos quais Adapak é fã) e conta com uma ilustração do autor, bem significativas à história; não do tipo que bloqueia a sua imaginação, mas sim que proporciona ainda mais clima à atmosfera construída. O volume em si é uma obra de arte.

Ilustração no primeiro capítulo.

Tantas particularidades fazem deste livro uma obra verdadeiramente singular e, sem dúvida, um poderoso representante e um marco da emergente literatura fantástica nacional.

Se você gosta de fantasia e ainda não conhece ou não leu O Espadachim de Carvão de Affonso Solano, arrependa-se! Leitura obrigatória para os fãs do gênero, ainda mais se você é brasileiro e entusiasta literário. O livro superou minhas expectativas, deixando a sólida promessa de uma nova saga – desta vez, totalmente brasileira – com potencial para formar um fandom gigantesco.


FICHA TÉCNICA


  • Livro: O Espadachim de Carvão
  • Autor: Affonso Solano
  • Gênero: Fantasia, Aventura
  • Número de Páginas: 256
  • País: Brasil
  • Ano: 2013
  • Editora: Fatasy/Casa da Palavra (LeYa Brasil)

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