Floreios & Borrões [Crônica V]

Quando cheguei à sala do 4B na quinta-feira, estava rolando uma treta entre os alunos porque alguém tinha feito uma vara com folha de caderno amassada e estavam usando pra bater uns nos outros. Quando perguntei o que era aquilo, todos os alunos começaram a acusar uns aos outros (como sempre) e, é claro, era impossível para mim discernir quem começara a confusão. Exigi silêncio e tomei a vara.

— O que é isto? — perguntei.


— É uma varinha, professor! — respondeu uma menina.

Observei o artefato e, enquanto todos os alunos me observavam calados esperando uma ralha, eu disse:

— Varinha, é? — ainda havia alguns alunos de pé. Pedi que sentassem. Quando eles perceberam que já não haveria mais briga, começaram a conversar e falar novamente uns para os outros quem eram os culpados. Eu me virei, apontando a varinha, e exclamei: — Petrificus Totalus!


Todas as crianças se assustaram. De repente, um começou a rir. Apontei a varinha para ele e gritei "Expelliarmus!". O menino se jogou na cadeira. Outro lá atrás começou a pular. Apontei a varinha para ele e conjurei um Wingardium Leviosa, fingindo levá-lo para a cadeira. Outros começaram a se levantar para brincar também, e fiz todos se sentarem com um Estupore. Um deles acabou derrubando a cadeira. Mandei que ele a levantasse e usei o feitiço de Reparo nela.

A atmosfera já estava mais leve quando eu levantei a varinha na frente da turma e fiz todos os alunos se calarem com um Silencio.

— Agora é prova — falei. — Continuem no Silencio pra que a gente possa fazer a avaliação de boa. — Joguei a varinha no lixo.

Enquanto eu estava entregando as provas, a turma bem mais comportada do que no último trabalho que tínhamos feito (eu estava doente daquela vez), um dos alunos (o que levara um Expelliarmus) perguntou serenamente:

— Professor... por que o senhor é tão legal?

Eu apenas sorri e falei que "porque ser legal é legal."

Mas o que eu realmente deveria ter dito para ele — e para os diretores e coordenadores de todas as escolas de Ensino Fundamental e Médio — era que essa era a única forma de fazê-los estudar, e aprender de verdade.


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