O Velho na Calçada (Crônica I)

Se você é jovem ainda...

Estava voltando pra casa a pé lendo um livro quando me vi atrás de um senhor idoso que andava muito devagar. Estando numa calçada estreita com muitas motos estacionadas no acostamento, eu me vi novamente naquela velha situação de ter que andar bem vagarosamente para acompanhar o passo do idoso à frente (quem nunca?). Tudo bem, o idoso não merece ser incomodado; por mais que ele me atrase/atrapalhe, é minha obrigação respeitá-lo e esperar o momento adequado para contornar.

Porém, este senhor idoso era diferente. Ele não só andava devagar, como parava a cada estabelecimento para cumprimentar alguns velhos conhecidos de aventuras passadas, e discutiam brevemente questões do passado, presente e futuro. Era um senhor animado e sorridente, pelo que percebi, e apesar do fato dele estar me tirando preciosos minutos de almoço, eu não pude deixar de simpatizar. Já me impacientei com idosos na rua antes, mas desta vez simplesmente não foi o caso. "Tudo bem", pensei comigo mesmo, "vou só focar aqui no livro enquanto ele segue sua caminhada. Estamos todos bem. Eu tenho tempo de sobra pro almoço."

Já tendo aceitado que demoraria um pouco mais pra chegar em casa e teria menos tempo pra preparar minha comida e almoçar antes de voltar pro trabalho, lá estava eu caminhando lentamente e parando constantemente ao sabor do passo do velho, me distraindo com o texto de Draccon, quando de repente a voz idosa me surpreendeu.

"Quer passar, meu filho?", o senhor olhou para mim, sorrindo e com os olhos brilhando. "Passe!" E abriu espaço com uma vênia rasa para que eu tomasse o meu caminho.

Não pude deixar de sorrir, retribuir o cumprimento e agradecer pela simpatia, compreensão e boa vontade do idoso. Fiquei especialmente feliz por enxergar ali toda aquela boa vontade e alegria. Talvez uma vida bem vivida, cheia de bons momentos e boa companhia... qualquer segredo que guardasse seu passado, de alguma forma evitou que ele se tornasse um velho amargo, rabugento e ranzinza. Talvez seu próprio brilho interior, sua própria jovialidade preservada. Nem todo mundo precisa envelhecer por dentro.

Ou como dizia aquela velha canção com a qual Chespirito nos presenteou: "... que o coração sustente a juventude que nunca morrerá."




You Might Also Like

2 comentários

  1. Ah Charles, como você me inspira com seus textos filosóficos <3

    Me inspira tanto que eu indiquei você no meu blog day, se quiser dar uma olhadinha: http://amorticinio.blogspot.com.br/2015/08/blog-day-2015.html

    Beijo (:

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Poxa, brigaaado, Ana BONFIM, sua linda! Haha! <33 Eu devia criar vergonha na cara e tornar este blog mais assíduo, né? XP

      Excluir